domingo, 30 de março de 2014

ADESSC REPUDIA A INVASÃO POLICIAL DA UFSC

Neste momento histórico quando se completam 50 anos do golpe empresarial-militar fascista - que assassinou, torturou e fez “desaparecer” milhares de lutadores do povo e cidadãos brasileiros, com o objetivo de entregar nosso país ao capital monopolista internacional e seus sócios internos, de espoliar nossas riquezas e explorar ao máximo os trabalhadores - presenciamos uma nova e inadmissível escalada reacionária. Além das campanhas ideológicas e políticas – abertas e dissimuladas – contra as instituições públicas (hospitais universitários, SUS público e universal, Universidades públicas) há um visível recrudescimento da violência policial contra os movimentos populares em todo o país.
Na última terça-feira, dia 25 de março de 2014, a Universidade Federal de Santa Catarina foi vítima, com o pretexto de combate às drogas, de uma “ARMAÇÃO”. A UFSC foi vítima de um ataque de SETORES DE EXTREMA DIREITA INSCRUSTADOS NA POLÍCIA FEDERAL (provavelmente minoritários na instituição). Policiais à paisana (P2) da Polícia Federal invadiram o campus da UFSC. Realizaram uma revista “pente-fino” nas cantinas do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH); agrediram e ofenderam estudantes que estavam no intervalo das aulas; prenderam um estudante que possuía pequena quantidade de maconha no bolso (o que não caracteriza tráfico) e mais quatro por estarem por perto ou por suposto desacato (a questão não está ainda esclarecida). É claro que, do ponto de vista técnico-policial, foi algo destituído de qualquer racionalidade: “queimaram” seus agentes para qualquer investigação séria contra o tráfico de drogas. Esta ação irracional ocorreu SEM INFORMAR A REITORIA e CONTRA ORDEM EXPLÍCITA DAS AUTORIDADES UNIVERSITÁRIAS QUE VETARAM ESTE TIPO DE AÇÃO na UFSC. Uma ação deste tipo em qualquer bar lotado por centenas de jovens, em qualquer lugar do Brasil, provavelmente acabará “achando” alguém portando maconha. Qualquer pessoa esclarecida sabe que o combate ao tráfico de drogas deve usar outros meios e centrar suas prioridades em outros alvos. Este tipo de ação e a violenta repressão massiva e generalizada que provocou – com camburões, cachorros e armamento pesado contra centenas de pessoas desarmadas - é algo que não deve ocorrer em nenhum lugar. O agravante, neste caso, é que houve UM ATAQUE ILEGAL À AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA E UM DESACATO DELIBERADO CONTRA AS AUTORIDADES ELEITAS E LEGÍTIMAS DA UFSC. Diante dos protestos de grande número de membros da comunidade da UFSC contra as prisões – propondo que fosse lavrado ali o “termo circunstanciado”, o que chegou a ser aceito pelo comandante da PM - o delegado interino da Polícia Federal, senhor Paulo Cassiano Jr., comportou-se de modo extremamente truculento; demonstrando total despreparo para o cargo e total desequilíbrio emocional. Os seus comandados da PF e o reforço da tropa de Choque da PM exigido por ele agrediram professores, estudantes e funcionários, provocando uma batalha campal no horário de saída do Colégio de Aplicação e das crianças do Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI). Os agentes da PF lançaram spray de pimenta no Diretor do CFH, Professor Paulo Pinheiro Machado, que buscava negociar uma solução pacífica, respeitosa de acordo com a Lei, de modo a prevenir uma tragédia (que poderia ter resultado em mortes). Na violentíssima repressão generalizada que se seguiu centenas de membros da comunidade universitária sofreram ferimentos devido aos tiros com bala de borracha e agressões físicas com instrumentos contundentes. Sobraram balas de borracha e gás lacrimogênio para todo mundo. As crianças do NDI entraram em pânico e muitas passaram mal devido às bombas de gás. O senhor Cassiano, Superintendente interino da Polícia Federal que comandou a operação, AGIU SEMPRE COMO UM PROVOCADOR. Suas declarações posteriores ajudam a desvelar sua MISSÃO. Ele atacou com espantoso desrespeito e grosseria a Reitora. De início acusou-a de estar fazendo bravatas, “brincadeira” e “piada de mau gosto”; de “não ter pulso”, de comportamento “desonroso por ficar contra a PF”; até chegar ao completo delírio: “a reitora quer transformar a UFSC numa república de maconheiros” (diariocatarinense.clicrbs.com.br/ 26 e 27/03). É esclarecedor comparar o discurso destemperado do senhor Cassiano com as críticas – enérgicas, mas serenas e fundamentadas em documentos e testemunhas – das autoridades da UFSC à AÇÃO VIOLENTA, IRRESPONSÁVEL, ILEGAL E ILEGÍTIMA DA POLÍCIA FEDERAL, que afrontou a autonomia universitária e os direitos humanos fundamentais. O comportamento do Superintendente “em exercício” da PF seria algo cômico (embora de péssimo gosto) se não fosse trágico. Ao invés de proferir calúnias e vitupérios contra honradas senhoras, ao invés de criar uma operação de guerra para prender um jovem em posse de um ou dois “baseados” (que nem estava fumando), o senhor Cassiano deveria usar melhor sua “valentia” para enfrentar as quadrilhas de bandidos e o crime organizado do tráfico de armas e drogas; e combinar valentia real (sem aspas) com o aprimoramento da estrutura de Inteligência da PF para descobrir os verdadeiros donos destes “negócios” bilionários e outros bandidos de colarinho branco (inclusive os envolvidos em operações financeiras criminosas); para, enfim, desbaratar as “grandes empresas” e punir os “grandes empresários” que compõem o escalão superior e dominante do crime organizado. A lógica desta “operação” na UFSC, no entanto, não tem nada a ver com as funções legítimas da Policia Federal. Trata-se de uma PROVOCAÇÃO CRIMINOSA E IRRESPONSÁVEL. Ela se encaixa - de um modo muito suspeito para todos que refletirem a luz dos fatos públicos, mesmo sem outras informações - com o movimento da extrema direita para sabotar a ação moralizadora da administração central da UFSC; através da revogação de convênios com grandes empresas (e a grande Mídia) lesivos ao interesse público e da instauração de processos contra irregularidades e improbidades que atingem alguns “graúdos” do cenário catarinense (cujos nomes ainda não podem ser revelados porque os processos seguem segredo de justiça). A invasão policial do Centro de Ciências Humanas envolve, também, uma tentativa de desmoralizar as melhores tradições da UFSC. Infelizmente há outras tradições, negativas, ligadas ao compadrio, ao clientelismo, ao elitismo e ao espírito de “confraria” que hoje se sente ameaçado. As melhores tradições estão em conexão com: o caráter público e gratuito, autônomo e democrático da instituição; a prática de concursos públicos que regem todas as contratações de docentes e funcionários; a produção de conhecimento original, a pesquisa criadora e a educação intelectualmente crítica; a história de lutas coletivas da comunidade universitária por democracia para o povo e justiça social. A INVASÃO DA POLÍCIA FEDERAL é uma AGRESSÃO À UNIVERSIDADE PÚBLICA BRASILEIRA COMO UM TODO; e atinge em particular a UFSC, um importante polo de resistência contra a criação do Ebserh que privatiza os Hospitais Universitários do Brasil. Não queremos mais conviver com desmandos e arbitrariedades. Nosso movimento sempre defendeu e sempre defenderá a plena autonomia dos movimentos e entidades dos professores, estudantes e técnico-administrativos em relação às empresas privadas, ao Estado e às administrações das Universidades. Apoiamos todas as lutas e reivindicações justas da comunidade universitária, inclusive as que eventualmente se choquem com posições da atual administração. Estamos agora diante de um problema maior que exige uma resposta unitária em defesa da Universidade. A ADESSC manifesta enérgico repúdio à ação ilegal da Polícia Federal, que fere o Art. 207 da Constituição Federal, ao promover operação repressiva na UFSC sem qualquer comunicação ou autorização da Reitora, Professora Roselane Neckel, com o agravante de chamar a tropa de choque da PM, que agiu violentamente contra estudantes, professores e funcionários. Salientamos nossa concordância com a nota de repúdio emitida pelas senhoras Reitora e Vice-Reitora (http://noticias.ufsc.br/2014/03/nota-de-repudio/), a urgência da apuração dos fatos, bem como a punição dos responsáveis por esta operação lamentável e ilegal. Total Solidariedade à Comunidade Universitária da UFSC Em Defesa da Autonomia Universitária No âmbito mais amplo: .É necessário divulgar toda verdade sobre a repressão ditatorial e punir os assassinos, “desaparecedores” e torturadores, de ontem e de hoje. .É preciso remover todo entulho ditatorial, que militarizou a polícia e criou a figura do “inimigo interno”, criminalizando os movimentos populares. .É necessário apoiar e defender as entidades e os movimentos que lutam pelos direitos econômicos, sociais, culturais, educacionais e políticos dos trabalhadores e das classes populares.  

Venham todos participar da Caminhada 50 anos do Golpe Militar - DITADURA NUNCA MAIS! Dia 1º de abril, a partir das 17h, saída da União Catarinense de Estudantes, Rua Álvaro de Carvalho, 246, centro, Florianópolis/SC. Florianópolis, SC, 27 de Março de 2014.


Associação dos Docentes de Ensino Superior de Santa Catarina 



Professor Paulo Pinheiro Machado tentou, em vão, negociar. Sobrou a truculência da PF



Bosque da UFSC virou batalha campal
Alunos organizaram-se e querem a PF fora da Universidade