quarta-feira, 29 de junho de 2011

Declaração final - XIX Convenção Nacional de solidariedade a Cuba

Os amigos e amigas de Cuba se encontram na ocasião da 19ª Convenção de Solidariedade a Cuba, no Memorial da América Latina, em São Paulo ao redor do busto de Simón Bolivar, símbolo da unidade latino-americana. Memorial de nossos povos ancestrais, de nossa cultura, de nossas lutas e por isso, nossa Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba toma outros significados. Nesses dias, estivemos reunidos, discutindo, organizando, aprendendo e ensinando, relembrando não só a história do povo de Cuba, mas de todo um continente, que desde a colonização européia resiste contra a dominação e luta por sua soberania e liberdade.

Nossa Convenção reuniu centenas de pessoas, representando 16 estados de nossa federação para discutir e organizar a defesa de um dos processos mais belos e mais avançados da história da humanidade. A revolução cubana, vitoriosa em 1959, nos mostra que é necessário vencer todos os dias, nos mostra que todas as formas de luta são importantes e necessárias para a vitória de um povo, e que o Socialismo é o caminho que tem produzido o exemplo mais firme e vivo de uma nação que encara a difícil tarefa de ser livre, digna, culta, organizada, solidária, internacionalista e corajosa.

Cuba não apenas não se alinhou às forças imperialistas como se tornou uma trincheira na batalha ideológica. Evidencia-se a importância do internacionalismo e a palavra solidariedade toma uma dimensão para além da semântica: é concreta. Destaca-se o trabalho dos médicos e professores cubanos principalmente na América Latina e África, que não repartem migalhas, mas pelo contrário, compartilham todo seu conhecimento e acúmulo, fruto de 50 anos de Revolução Socialista.

Defender o exemplo de Cuba e o Socialismo é defender a necessidade de se fazer a Revolução Socialista no Brasil. Este é o motivo pelo qual Cuba consegue unificar tantas forças políticas no país. E essa unidade deve significar ação organizada por nós brasileiros. Os ataques que Cuba sofre por parte dos EUA não devem passar impunes. Reconhecendo o significado geoestratégico e histórico que o Brasil tem no mundo, nossa ação política deve estar à altura do nosso discurso.

Encerramos essa convenção com a certeza de que avançamos nacionalmente nos últimos anos com relação à solidariedade a Cuba, porém, diante das ameaças do império, os que apoiam a Revolução devem estar cada vez mais organizados para sua defesa e para isso nossas campanhas de informação, ações de rua e parlamentares precisam avançar. Assim como o trabalho nacional de solidariedade, aperfeiçoando os trabalhos locais para incluir e organizar aqueles que desejam ampliar as ações neste campo.

A mídia burguesa mente e frauda informações sobre Cuba. Vemos uma campanha de desinformação sobre a realidade desse país. Por isso, vemos a necessidade de ações que rompam com o bloqueio midiático, para rompermos também com o bloqueio econômico e exigirmos já a Libertação dos Cinco Heróis presos pelo Império há 12 anos.

Os inimigos de Cuba diziam que com o fim da União Soviética, Cuba tinha seus dias contados. Hoje, mais de dez anos depois, Cuba demonstra sua capacidade de organizar e planejar sua revolução, sem se ajoelhar diante do Imperialismo e sem trair nenhum princípio revolucionário.

Ano após ano, vemos a derrota dos EUA nas votações da ONU pelo fim do bloqueio a Cuba. O mundo é unânime ao denunciar a crueldade que o capitalismo é capaz para derrubar uma revolução. O bloqueio a Cuba não é uma abstração, ele se traduz no dia-a-dia da sobrevivência de seu povo. Através dele, tentam aniquilar e isolar o povo cubano, que resiste e mesmo com muitas dificuldades, mantém vivo o internacionalismo e a solidariedade.

A luta contra o bloqueio não pode cessar nenhum minuto.

O campo de ação da solidariedade e defesa de Cuba é amplo. Durante nossas discussões, identificamos a centralidade da luta pela libertação dos Cinco Heróis, que nunca cometeram nenhum crime, mas que estão injustamente presos por tentarem impedir ações terroristas contra seu povo.

Para Cuba, é urgente fortalecer a luta pela libertação de Antonio Guerrero, Fernando González, Gerardo Hernández, Ramon Labañino e René González. Não podemos fechar os olhos diante dessa grande injustiça que se repete com vários lutadores do mundo, por isso, a coordenação de uma campanha nacional pela libertação dos Cinco Heróis é urgente.

Outro aspecto central para os movimentos de solidariedade no Brasil é seguir e ampliar a luta pela revalidação dos diplomas dos médicos formados na ELAM, bem como envolve-los na nossa luta, reforçando o caráter humano e socialista que adquiriram da formação cubana.

Por conta da coerência da Revolução Cubana, as ações em sua defesa ocorrem no mundo todo e, nos últimos anos, temos dado pouca atenção aos encontros e reuniões de articulação Continental da Solidariedade a Cuba. Por isso, a participação no VI Encontro Continental de Solidariedade com Cuba, que ocorrerá de 6 a 9 de outubro no México, está na pauta das organizações solidárias. É também nossa tarefa acompanhar e cobrar o posicionamento do Brasil na Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos, que será fundada em 5 de julho deste ano, em Caracas, quando se comemora o bicentenário da Independência de muitos países latino-americanos.

Temos a tarefa de fortalecer nosso trabalho, principalmente neste cenário em que a mídia burguesa deturpa os realinhamentos na política econômica, discutidos amplamente com o povo cubano e referendados no VI Congresso do Partido Comunista Cubano.

Para defender uma revolução, é necessário conhecê-la. As atividades de formação sobre a realidade Cubana, seminários, cursos e difusão em meios de comunicação devem avançar.

As mais de quinhentas pessoas, dos estados Amapá, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo reunidas durante esses três dias consecutivos de debate e reflexão reafirmam: Cuba não está só!!!

São Paulo, 25 de junho de 2011.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Documentário Carne Osso revela trabalho insalubre em frigoríficos

Selecionado para o Festival Audiovisual Mercosul e Festival "É Tudo Verdade", documentário alia imagens impactantes a depoimentos que caracterizam o duro cotidiano do trabalho nos frigoríficos brasileiros de abate de aves, bovinos e suínos. Será apresentado, quinta-feira, dia 30, as 16 horas, na UFSC.


Quem trabalha em um frigorífico se depara diariamente com uma série de riscos que a maior parte das pessoas sequer imagina. Exposição constante a facas, serras e outros instrumentos cortantes; realização de movimentos repetitivos que podem gerar graves lesões e doenças; pressão psicológica para dar conta do alucinado ritmo de produção; jornadas exaustivas até mesmo aos sábados; ambiente asfixiante e, obviamente, frio - muito frio.

Esse é o duro cotidiano de trabalho nos frigoríficos brasileiros de abate de aves, bovinos e suínos que o documentário "Carne Osso" (confira trailer) traz à tona. Ao longo de dois anos, a equipe da ONG Repórter Brasil percorreu diversos pontos nas regiões Sul e Centro-Oeste à procura de histórias de vida que pudessem ilustrar esses problemas.

O filme alia imagens impactantes a depoimentos que caracterizam uma triste realidade que deve ser encarada com a devida seriedade pela iniciativa privada, pela sociedade civil e pelo poder público.

Selecionado para o Festival "É Tudo Verdade", "Carne Osso" concorre na competição brasileira de longas e médias metragens. O filme será exibido nos dias 2 (às 21h) e 3 (às 13h) de abril, no Cine Unibanco Arteplex (Sala 6) - Praia de Botafogo, 316, Rio de Janeiro (RJ). Em São Paulo (SP), às exibições estão marcadas para 4 (às 21h) e 5 (às 13h) de abril, no Cine Livraria Cultura (Sala 1), no Conjunto Nacional, na Av. Paulista, 2073. A entrada é gratuita.


Danos físicos e psicológicos


"Cerca de 80% do público atendido aqui na região é de frigoríficos. Ainda é um pouco difícil porque o círculo vicioso já foi criado. O trabalhador adoece e vem pro INSS. Ele não consegue retornar, ele fica aqui. E as empresas vão contratando outras pessoas. Então já se criou um círculo que agora para desfazer não é tão rápido e fácil" Juliana Varandas, terapeuta ocupacional do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) de Chapecó (SC).

As estatísticas impressionam. De acordo com o Ministério da Previdência Social, um funcionário de um frigorífico de bovinos tem três vezes mais chances de sofrer um traumatismo de cabeça ou de abdômen do que o empregado de qualquer outro segmento econômico. Já o risco de uma pessoa de uma linha de desossa de frango desenvolver uma tendinite, por exemplo, é 743% superior ao de que qualquer outro trabalhador. E os problemas não são apenas físicos. O índice de depressão entre os funcionários de frigoríficos de aves é três vezes maior que o da média de toda a população economicamente ativa do Brasil.

Ritmo frenético

"A gente começou desossando três coxas e meia. Depois, nos 11 anos que eu fique lá, cada vez eles exigiam mais. Quando saí, eu já desossava sete coxas por minuto"
Valdirene Gonçalves da Silva, ex-funcionária de frigorífico

Em alguns frigoríficos de aves, chegam a passar mais de 3 mil frangos por hora pela "nória" - a esteira em que circulam os animais. Há trabalhadores que fazem até 18 movimentos com uma faca para desossar uma peça de coxa e sobrecoxa, em apenas 15 segundos. Isso representa uma carga de esforço três vezes superior ao limite estipulado pelos especialistas em saúde do trabalho.

Reclamações curiosas


"Tu não tem liberdade pra tu ir no banheiro. Tu não pode ir sem pedir ordem pro supervisor teu, pro encarregado teu. Isso aí é cruel lá dentro. Tanto que tem gente que até louco fica" Adelar Putton, ex-funcionário de frigorífico

Muitos trabalhadores se queixam também de restrições de menor importância – pelo menos, aparentemente. Por exemplo: o funcionário só pode ir ao banheiro com permissão do supervisor e em um tempo bastante curto, coisa de poucos minutos. Também são tolhidas aquelas conversinhas paralelas que possam diminuir o ritmo de trabalho.

Problemas com a Justiça

"O trabalho é o local em que o empregado vai encontrar a vida, não é o local para encontrar a morte, doenças e mutilações. E isso no Brasil, infelizmente, continua sendo uma questão séria" Sebastião Geraldo de Oliveira, desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª região (TRT-3)

Nas regiões em que estão instaladas as indústrias frigoríficas, boa parte dos processos que correm na Justiça do Trabalho diz respeito a essas empresas. Em cidades como Chapecó, no oeste de Santa Catarina, as ações movidas por trabalhadores contras essas companhias respondem por mais da metade dos processos.

Pujança econômica

"Esse é um problema de interesse do conjunto da sociedade, não é só de um setor. O Estado tem que se posicionar. Não se pode fazer de forma tão impune ações que levam ao adoecimento e à incapacidade tantos trabalhadores" Maria das Graças Hoefel, médica e pesquisadora

O Brasil é simplesmente o maior exportador de proteína animal do mundo. O chamado "Complexo Carnes" ocupa o terceiro lugar no pódio do agronegócio nacional, atrás apenas da soja e do açúcar/etanol. Em 2010, as vendas externas superaram US$ 13 bilhões. No total, o setor emprega diretamente 750 mil pessoas. Vale lembrar que muitos desses frigoríficos se transformaram em gigantes no mercado mundial com dinheiro do governo via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - o principal banco de fomento da economia brasileira.

Melhorar é possível

"Basicamente, é conscientizar essas empresas para reprojetar essas tarefas. Introduzir pausas, para que exista uma recomposição dos tecidos dos membros superiores, da coluna. Em algumas vai ter que ter diminuição de ritmo de produção. Nós estamos hoje chegando só no diagnóstico do setor. Mas as empresas ainda refratárias a esse diagnóstico" Paulo Cervo, auditor fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)

Não é difícil diminuir a incidência de problemas no ambiente de trabalho de um frigorífico. Reduzir a jornada de trabalho, adotar um rodízio de tarefas, diminuir o ritmo da linha de produção e realizar pausas mais frequentes e mais longas são algumas medidas possíveis. Falta apenas que as empresas se conscientizem disso.

Ficha técnica - Carne Osso
Duração: 65 minutos
Direção: Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros
Roteiro e edição: Caio Cavechini
Fotografia: Lucas Barreto
Pesquisa: André Campos e Carlos Juliano Barros
Produção Executiva: Maurício Hashizume
Realização: Repórter Brasil, 2011

Exibições - Festival Audivosiual do Mercosul - FAM , Centro de Eventos da UFSC, dia 30 de junho, 16 horas.
Entrada gratuita