quarta-feira, 18 de maio de 2011

III Encontro Nacional do Andes-SN sobre saúde do trabalhador aponta necessidades de ações concretas para enfrentar adoecimento docente

Por Luciana Silvestre
Adufes Seção Sindical

Entre os dias 13 e 15 de maio, ocorreu na Universidade Federal do Espírito Santo, em Vitória, o III Encontro Nacional do Andes-SN sobre saúde do trabalhador, com o tema “Saúde e trabalho docente: da resignação à luta”. Cerca de 80 participantes, entre docentes, estudantes e integrantes de outros sindicatos estiveram na atividade, que contou com a presença de 15 seções sindicais do Andes-SN.

Na abertura do encontro, o Secretário Geral do Andes-SN, Márcio de Oliveira, fez um resgate da luta do Sindicato Nacional em defesa da saúde pública e do Sistema Único de Saúde (SUS), que sofreu um desmonte com as políticas de privatização a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso. “Atualmente, temos que enfrentar a MP 520, que privatiza os hospitais universitários, e a MP que cria o regime de previdência complementar, pois lutar pela saúde do trabalhador é lutar pela saúde do professor”, reiterou Márcio.

Saúde do trabalhador está ligada às relações sociais de produção
Na conferência de abertura, que contou com a participação da professora da Escola de Serviço Social da UFRJ, Sara Granemann, e do professor da UFPR, Guilherme Albuquerque, foram debatidas as concepções de trabalho no capitalismo e a maneira como a saúde está vinculada às relações sociais de produção.

“As transformações que ocorreram no mundo da fábrica na segunda metade do século XX, pela reestruturação produtiva, já se expandiram para as universidades e o serviço público”, explicou Sara. Ela afirmou que o quadro de poucos trabalhadores estáveis e muitos temporários é perceptível nas universidades com contratação de professores substitutos. Além disso, as metas de produtividade e as gratificações e os bônus recebidos por isso também conformam o mundo do trabalho no ensino superior.

Tendo em vista o modelo econômico, é que deve ser compreendida a saúde do trabalhador. “A saúde não é apenas ausência de doença, mas a capacidade de realizar plenamente o que o gênero humano tem como possibilidade”, explicou o professor Guilherme Albuquerque. A questão é que, sob o capitalismo, essa perspectiva de saúde não se realiza, e fica restrita ao tratamento de doenças e enfermidades surgidas no trabalho, mas sem apontar suas causas sociais.

Diagnósticos afirmam que docentes estão doentes

Outro aspecto debatido durante o encontro de saúde foi o diagnóstico da saúde docente, que apontou para um adoecimento efetivo da categoria, chegando até mesmo ao suicídio, em alguns casos. Conforme dados apresentados pela professora da PUC–SP, Margarida Barreto, o adoecimento de professores é uma realidade na América Latina e no Brasil. “No México, 41% de docentes sofrem de transtornos somáticos. Essa situação é semelhante no Brasil, que é o 3º país que pior remunera professores, principalmente no início de carreira”, afirmou Margarida.

Os principais relatos do que leva ao adoecimento docente apontam o não-reconhecimento no trabalho, a solidão, o desrespeito, a dificuldade de conciliar trabalho e vida pessoal, a sobrecarga de tarefas e a falta de participação nas decisões como fatores de adoecimento. As principais doenças desenvolvidas por professores são os transtornos psíquicos, como a depressão, despersonalização, síndrome do pânico, stress e burnout.

De acordo com a professora do Departamento de Ciências Sociais da Ufes e que desenvolve uma pesquisa sobre precarização do trabalho e suas implicações no modo de vida e na saúde dos docentes na UFES, Izabel Cristina Borsoi, a cultura acadêmica está baseada na lógica mercantil e a excelência não significa alta qualidade, mas sim quantidade. “Os relatos da pesquisa demonstram que o docente se sente improdutivo mesmo que produza muito. Há uma naturalização da produtividade”, explicou Cristina.

A pesquisa realizada pela professora demonstrou que 81,3% dos docentes entrevistados procuraram atendimento médico nos últimos dois anos, sendo 36% por problemas psicoemocionais, como ansiedade e depressão. Outro dado interessante da pesquisa, é que dos docentes que são medicados com remédios prescritos, 57,5% são mulheres e 41,1% são homens.

Estratégias de enfrentamento ao adoecimento decorrente do trabalho são apresentadas por entidades

Durante o encontro de saúde, também ocorreu uma mesa em que foram apresentadas as estratégias já em curso para o enfrentamento do adoecimento, como o Fórum de Saúde do Trabalhador da UFPR, apresentado pela professora Elizabeth Araújo Garzuze; as experiências do Andes-SN, relatadas pelo professor João Wanderley; e as do Sindicato dos Trabalhadores Federais em Saúde, Trabalho e Previdência no Estado do ES (Sindprev), apresentadas por Marli Brígida dos Reis.

“Nos reunimos trimestralmente em comissões nos locais de trabalho, onde discutimos nossas dificuldades e pensamos em estratégias de ações frente às problemáticas que nos são postas”, explicou Marli Brígida. Ela também disse que esses grupos funcionam bem e os trabalhadores se sentem mais preparados para superar determinadas problemáticas.

Docentes apontam necessidade de ações concretas para o problema
Na plenária de encerramento do encontro e nos grupos de discussão, foi reiterado o posicionamento dos docentes de que o debate sobre saúde seja transformado em ação concreta. “O seminário é um momento de encontro para pensar e sugerir ações concretas. Na nossa seção sindical, já discutimos a questão da insalubridade e estamos nos preparando para discutir a MP 520”, afirmou o professor da ADUFF, Armando Cypriano Pires.

Na avaliação da coordenadora do GTSS/A, Bartira Silveira Grandi, o encontro apresentou uma estrutura de discussão que possibilitou uma melhor compreensão do debate e subsidiou os docentes para o enfrentamento da questão. “Há um forte posicionamento dos professores de que, além de aprofundar o tema, é preciso transformar essa discussão em ação. Essa é colocação que a coordenação do GT vai levar para reunião de diretoria do Andes-SN”, afirmou.

Ao final da plenária, foi encaminhado que os GT’s locais das seções sindicais discutam os parâmetros para a pesquisa do perfil do trabalhador docente e enviem as contribuições para a coordenação nacional do GT em um prazo de 30 dias. As demais sugestões de ações para o Sindicato Nacional serão encaminhadas para discussão na plenária do Conad.



Associação dos Docentes de Ensino Superior de Santa Catarina
Data: 16/05/2011

Professores param em Santa

Educação | 17/05/2011 | 21h29min

Professores da rede estadual de Santa Catarina entram em greve nesta quarta-feira
Paralisação é por tempo indeterminado e atinge 1.350 escolas públicas
Os professores da rede estadual de ensino de Santa Catarina entram em greve nesta quarta-feira. A paralisação é por tempo indeterminado e só deve ser interrompida quando o governo do Estado apresentar uma proposta de pagamento do piso salarial da categoria que seja aceita pelos trabalhadores.

A greve vai atingir cerca de 700 mil alunos de 1.350 escolas públicas do Estado. O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de SC (Sinte) acredita que mais de 50% dos professores parem as atividades nesta quarta-feira em todas as regiões catarinenses.

A decisão foi tomada na assembleia da categoria, no último dia 11, em Florianópolis. Nesta terça-feira houve uma nova reunião entre governo do Estado e Sinte, mas segundo os representantes dos trabalhadores, como nenhuma proposta foi apresentada a greve foi mantida.

Os professores querem que o Piso Nacional da Categoria, de R$ 1.187,97, seja o salário inicial, pago sem a retirada de outros benefícios que estão na folha de pagamento. O governo concordou em pagar o piso mas somaria o salário base e os abonos para chegar ao valor, o que não é aceito pela categoria. O valor certo, segundo os professores, seria R$ 1.597, que soma o valor do piso mais os abonos.

— Temos clareza do que é a lei do piso, como ela deve ser aplicada e tentamos negocia a partir disso. Estaremos em greve até que o Estado apresente uma nova proposta de aplicação do piso. Se a categoria aceitá-la interrompemos a paralisação — destacou o diretor financeiro do Sinte, Sandro Luiz Cifuentes.

Sobre a reposição das aulas Cifuentes diz que o magistério catarinense sempre se comprometeu em fazer a reposição dos conteúdos. Ele salientou que tanto a reposição quanto o retorno ao trabalho está nas mão do Governo.

O governo do Estado marcou uma mesa de negociações com os representantes dos professores para a próxima segunda-feira. Uma nova proposta será apresentada.

DIÁRIO CATARINENSE